quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

"Anemia da inflamação" ou Anemia da doença crônica

Anemia da inflamação é uma síndrome clínica que se caracteriza pelo desenvolvimento de anemia em pacientes que apresentam doenças infecciosas crônicas, inflamatórias ou neoplásicas. Essa síndrome tem como aspecto peculiar a presença de anemia associada à diminuição da concentração do ferro sérico e da capacidade total de ligação do ferro, embora a quantidade do ferro medular seja normal ou aumentada.
Dos vários mecanismos envolvidos em sua fisiopatogenia, os três principais são: diminuição da sobrevida das hemácias, resposta medular inadequada frente à anemia e distúrbio do metabolismo do ferro.
A hiperatividade do sistema mononuclear fagocitário desencadeado por processo infeccioso, inflamatório ou neoplásico leva à remoção precoce dos eritrócitos circulantes e, portanto, à diminuição da sobrevida das hemácias. Outros fatores como: febre (que pode causar dano à membrana eritrocitária), liberação de hemolisinas (em algumas neoplasias) e liberação de toxinas bacterianas podem levar à condição de hiper-hemólise.
A resposta medular inadequada observada deve-se, basicamente à secreção inapropriadamente baixa de eritropoetina (EPO), à diminuição da resposta da medula óssea à EPO e à diminuição da eritropoese conseqüente à menor oferta de ferro à medula óssea.
A medula óssea normal é capaz de aumentar 6 a 8 vezes sua capacidade eritropoética e, portanto, facilmente compensaria a diminuição modesta da sobrevida das hemácias. No entanto, não é isto que se observa nos pacientes com a anemia da inflamação. Tal falha do aumento da eritropoese deve-se, particularmente, à secreção inapropriadamente baixa de EPO.
Uma das explicações para essa resposta medular inadequada está diretamente relacionada à ativação dos macrófagos e à liberação de citocinas inflamatórias, que atuam inibindo a proliferação dos precursores eritrocitários e, portanto, inibindo a eritropoese. Além disso, a ação supressora dessas citocinas sobre a eritropoese supera a ação estimuladora da EPO resultando na diminuição da resposta da medula óssea à EPO e à eritropoese.
O ferro é um elemento essencial na maioria dos processos fisiológicos do organismo humano, desempenhando função central no metabolismo energético celular.
A maior parte do ferro plasmático destina-se à medula óssea. Na anemia da inflamação ocorre distúrbio da reutilização do ferro que se mantém sob a forma de depósito.
Em resumo, todo processo inflamatório crônico é capaz de aumentar a síntese e a liberação de citocinas endógenas que, por sua vez, induzem alterações do metabolismo do ferro e diminuição da síntese da hemoglobina.
A anemia da inflamação caracteriza-se por anemia normocítica/normocrômica do tipo hipoproliferativa com ferro sérico e saturação da transferrina diminuídos e, paradoxalmente, aumento da concentração do ferro de depósito.
A anemia é de intensidade leve à moderada. As hemácias normalmente são normocíticas e normocrômicas. No entanto podem ser observados eritrócitos hipocrômicos em até 50% dos pacientes acometidos e microcíticos em 20 a 50% dos casos. À extensão do sangue periférico, pode-se observar anisocitose e poiquilocitose discretas. A contagem de reticulócitos é normal ou pouco elevada.
A análise do ferro medular revela presença normal ou aumentada de ferro, que se deve, particularmente, ao distúrbio da sua mobilização e/ou reutilização pelos precursores eritrocitários hematopoéticos. A eritropoese encontra-se normal ou discretamente hiperplásica.
Outras alterações bioquímicas podem estar presentes, tais como: aumento do fibrinogênio e da proteína C reativa, aumento da ceruloplasmina, diminuição da haptoglobina, aumento da velocidade de hemossedimentação, aumento do cobre sérico, diminuição da albumina e da transferrina sérica.

Fonte: CANÇADOL, R.D. & CHIATTONE, C.S. Anemia de Doença Crônica.Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. v. 24, n. 2, p. 127-136. Junho, 2002.

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